(Anselmo Borges, en DN).- Concluo a apresentação das dez heresias do catolicismo actual, segundo J. I. González Faus.
7. «Apresentar a Igreja como objecto de fé». Que se entende por Igreja? É decisivo responder adequadamente a esta pergunta, para afastar o perigo em que caiu o Papa Pio IX, que se negava a renunciar aos Estados Pontifícios, alegando que «aqueles territórios não eram seus, mas de Cristo». A Igreja não é Deus, é comunidade de comunidades formadas por homens e mulheres que acreditam em Jesus e no Deus que Jesus revelou. Homens e mulheres que acreditam no Deus de Jesus formam a Igreja e é em Igreja que acreditam em Deus. Temos, pois, um erro quando «a Igreja se apresenta como objecto de fé, equiparando-se ao Deus trino e esquecendo que só em Deus, e em mais ninguém, é possível crer, no sentido pleno da palavra». Percebe-se também que a autoridade na Igreja só como serviço se pode compreender.
8. «A divinização do Papa». «Confessamos que o Papa romano tem poder para mudar a Escritura e aumentá-la ou diminuí-la de acordo com a sua vontade. Confessamos que o santíssimo Papa deve ser honrado por todos com a honra devida a Deus e com a genuflexão maior devida a Cristo.» Estas «palavras incríveis» provêm da profissão de fé que os jesuítas propunham aos protestantes húngaros para passarem à Igreja Católica nos finais do século XVII. O Papa Bento XVI, quando era professor, denunciou esta profissão como «monstruosa», reconhecendo depois que o magistério nunca a condenou.
As citações nesta linha são quase infindáveis. Atribuíram-se ao Papa títulos como «Vice-Deus da humanidade», «o Verbo encarnado que se prolonga». Num livro de meditações atribuído a São João Bosco, lê-se: «O Papa é Deus na Terra. Jesus colocou o Papa no mesmo nível de Deus.» Chama-se a isto culto da personalidade e idolatria. Leia-se o «incrível» texto chamado Dictatus Papae, do Papa Gregório VII, século XI: «A Igreja romana foi fundada só por Jesus Cristo. Por isso, só o Romano Pontífice é digno de ser chamado universal. Só ele é digno de usar insígnias imperiais; ele é o único homem cujos pés todos os príncipes beijam.
Não existe texto jurídico algum fora da sua autoridade; a sua sentença não pode ser reformada por ninguém e ele pode reformar as de todos. Ele não pode ser julgado por ninguém. A Igreja romana nunca se equivocou e nunca poderá equivocar-se. O Romano Pontífice canonicamente ordenado é sem dúvida santo pelos méritos de São Pedro.» Na famosa bula Unam sanctam, o Papa Bonifácio VIII define que «submeter-se ao Romano Pontífice é necessário para a salvação de todos os homens». O Papa Gregório XVI opôs-se à tradição que fala de uma «Igreja com necessidade constante de reforma», acusando-a de «absurda e injuriosa», porque não se pode «nem sequer pensar que a Igreja esteja sujeita a defeito ou ignorância ou a quaisquer outras imperfeições».
A Igreja acabou por ser confundida com o Papa, como consta no programa do grupo La Sapinière, que o Papa São Pio X apoiou tacitamente: «Pode-se dizer que o Papa e a Igreja são uma só coisa.» E, embora a palavra hierarquia (poder sagrado) nunca apareça no Novo Testamento, e, na linguagem eclesiástica, só no século V, de facto o cristianismo foi sendo reduzido a um eclesiocentrismo e este a um hierarcocentrismo: «A Igreja reduzida ao poder sagrado e o resto dos fiéis é apenas objecto deste poder, cuja única missão é «aceitar ser governado e obedecer» (e pagar), como disse o Papa Pio X. E, por fim, este hierarcocentrismo é reduzido à figura do Papa, separado do colégio episcopal pela forma como a cúria romana costuma governar.»
E aí está como o Papa, cuja missão é de unidade, foi fonte de ruptura: lembrar o cisma do Oriente (1054) e a Reforma protestante (1517), e como se percebe o fascínio do Papa Francisco, porque é um papa cristão.
9. «Clericalismo». Tudo se concentra nesta pergunta: Deus pode ser concebido como Poder, quando Jesus o revelou como «Amor que capacita para amar»?
No Novo Testamento, «a comunidade toda de crentes é «clerical», porque foi chamada a compartilhar a herança (klêros) dos santos na luz», como se lê na Carta aos Colossenses. «Não existem, portanto, clero e laicado, mas uma comunidade, um povo afortunado que, como qualquer grupo humano, precisará de diversos serviços»: ensino, direcção, coordenação. E «os responsáveis das Igrejas são chamados presbíteros, supervisores, servidores, «os que trabalham por vós»…, mas nunca sacerdotes.» Só mais tarde os ministérios eclesiais se revestiram de dignidade mundana, passando-se então do «povo afortunado» para «os afortunados do povo». E aí está o clericalismo para dentro e para fora da Igreja.
10. «Esquecimento do Espírito Santo». A raiz de todas estas heresias: o esquecimento do Espírito do Deus de Jesus, Espírito criador, que une na diferença e renova todas as coisas.

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